Porque jogos?

(Eu tenho algumas idéias que podem servir de combustível para o Final Secreto por algum tempo; porém, como o primeiro texto, eu queria escrever alguma coisa que fosse diferente do comum, ou o que virá a ser comum se eu conseguir manter esse blog. Como depois desse texto inicial, todos os outros serão sobre jogos eletrônicos, pensei em alguma coisa que não alienasse de cara quem não se interessa pelo assunto, já que fazer pessoas que não gostam de jogos se interessarem por eles é um dos objetivos desse blog – como era no meu antigo).

Eu jogo jogos eletrônicos á muito tempo; é uma mídia pela qual eu sou encantado, e é a área em que eu pretendo trabalhar, algum dia.Mas eu também gosto de ver filmes, assistir séries, ler quadrinhos, escutar música.E enquanto compartilho esses gostos com quase todo mundo que conheço, quando se trata de jogos, o número de pessoas  é bem menor.

Jogos não estão difundidos ainda como uma parte indissociável do panorama cultural, e ainda irá demorar alguns anos até eles se tornarem.Eles com certeza irão, mas por hora, eles ainda são uma banalidade para a maior parte das pessoas.

Então, como mudar isso?

Existe muito falatório sobre o que deve feito para os jogos serem aceitos artisticamente e culturalmente na sociedade.Como os jogos rendem quantidades ridículas de dinheiro todo ano, esse é um processo natural; porém, a maioria dos jogos que mais lucram não fazem muito para mudar a percepção pública deles mesmos.Mesmo que, nos últimos anos, jogos aonde a narrativa e as novas idéias terem sido mais destacados pela crítica (pelo menos a crítica de jogos que pode ser levada a sério) do que as iterações perpétuas de franquias mofadas.

A cena independente, onde estão os jogos mais vanguardistas e interessantes cresce cada vez mais, claro, e diversas ferramentas e fóruns na internet permite virtualmente a qualquer um (com bastante tempo de sobra) criar um jogo.Isso sem mencionar os jogos nas redes sociais, que, quer você goste ou não (e eu não gosto), provém uma alternativa viável de jogo, para aqueles que, por uma razão ou outra, não jogam com frequência.

Mas então, como é difícil, ou até constrangedor, convencer os outros da validade desse meio?

Bom, se descontados os jornais desinformados e os políticos moralistas, uma importante razão é o fato de que jogos são, essencialmente, elitistas, ainda mais se formos considerar o contexto nacional.Consoles são caros, bem como computadores modernos e boas conexões de internet.E isso sem querer entrar no debate da pirataria, que é só uma questão interna mesma; as grandes empresas de jogos só estão preocupadas se estão lucrando ou não, e não irão mover um dedo para mudar essa situação.

Mas esse elitismo não surge por causa da questão financeira, mas em decorrência dela; mesmo nos países em que os jogos não têm preços proibitivos, existem outras barreiras, como a necessidade de investimento de tempo, de conhecimento prévio de outros jogos, e de repetição dos temas.O segmento de mercado para o qual a maioria dos jogos se destina não se importa em gastar horas com uma mesma atividade repetitiva, de lidar com mecânicas complicadas e muitas vezes frustrantes, e de jogar o enésimo jogo de tiro com um soldado intergalático versus zumbis nazistas mutantes do inferno.

Por causa em especial deste último título, se cria uma imagem cristalizada do que são os jogos, e que diversão insubstancial é tudo que eles podem oferecer.Se você não é um homem ligeiramente infantilizado e com menos de 35 anos, você não pode se juntar, até porque, não há nada que te atraia aqui. É semelhante ao que aconteceu com os quadrinhos, que todos associam imediatamente ao gênero de super-heróis; não só existe toda uma vasta gama de possibilidades nesse meio (mangá é quadrinho, por mais que certos otakus não queiram admitir), como também existem fantásticas histórias de super-heróis.

O que quero dizer é que somos capazes de muito mais, e precisamos abrir os olhos para isso.Uma das razões do sucesso do Wii entre o público que não joga é que é justamente vendido como algo alternativo á um “videogame”, fugindo das idiossincrasias que muitos associam ao meio (sangue, hi-scores, adolescentes massacrando botões). É por causa dessa visão cristalizada que jogos não tem espaço fixo na crítica cultural contemporânea, e quando tem, ela é superficial.

O que leva a outra razão, que é menos cultural e mais ampla: muito se fala como jogos devem abordar temas mais sérios, mais ousados, e explorarem as possibilidades que um meio interativo traz.È lógico que isso é uma necessidade, mas existe um certo receio que, para isso, os jogos deverão abdicar de seu fator fundamental: o entretenimento.A grande verdade é que todo mundo joga para se divertir, se entreter, e, embora eu não veja nenhum problema em um jogo deixar de ser “divertido” (o que é divertido, vale lembrar, é um conceito bem abstrato, que muda de pessoa para pessoa – bem como o que é arte) em troca de algum mérito artístico, eu acho que uma coisa não exclui a outra, e pensar assim é algo que

O problema é que a idéia de brincar, de jogar, a base fundamental desse meio, é algo que não é bem visto socialmente.Bem no fundo, muita gente – jogadores inveterados inclusive – enxergam jogar como perda de tempo.Não é.Jogar é algo essencial para o ser humano, e parte indissociável de sua cultura (é mais ou menos que diz Huizinga, o campeão de citações em qualquer tese de mestrado sobre jogos eletrônicos).

Mais pessoas tem que jogar, mas mais pessoas têm que se interessar pelos jogos como meio, pelas suas possibilidades; precisamos transgredir a idéia de que todo jogo precisa de vidas, tiros, Game Over, pulo duplo, pontos de experiência, modo multiplayer e sidequests.E também, nem todo jogo precisa de metáforas com as próprias mecânicas, de apresentar uma dificuldade impiedosa, de tutoriais detalhando cada movimento necessário, de narrativas complexas, de temas adultos, e de escolhas morais.

Jogos, no momento, são só algumas coisas; eles precisam ser todas elas.

P.S: Esse texto acabou trazendo vários pedaços de idéias que irão aparecer nos próximos textos, simplesmente porque eu não sabia direito o que eu ia escrever quando comecei.Eu prometo que vou tentar falar de um tema só nas próximas postagens…

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3 respostas para Porque jogos?

  1. Cesar Martins disse:

    Então quer dizer que o blog mudou de nome e morada e ninguém avisa? Sacanagem! =D

    Muito legal isso, cara. Concordo com praticamente tudo o que você disse. Os jogos não tratados como deveriam mesmo. Mas acho que isso não irá acontecer tão cedo. Talvez numa sociedade futura onde os carros voarão e as pessoas não terão mais contato com o solo terrestre, o que faria dos videogames o “esporte” número um. =D

    Agora que achei, vou seguindo aqui.

  2. Dhano disse:

    Achei o “Gamer Atrasado” muito massa (descobri ele hj shuahsuhash), e concerteza vou estar comentando aki nesse blog. Parando de fugir do assunto do artigo, é mesmo uma pena q no mundo em q vivemos naum é dado o real valor aos jogos, mas mantemos as esperanças q isso mude um dia. XD (desculpa escreve meio errado, eh q to meio acostumado (culpa do msn) XD)

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